Wednesday, March 10, 2010

No Divã

Imagem Diva no Sofa
Como ainda não consegui preparar nada para postar essa semana, resolvi falar um pouco de mim.

Depois de 15 meses blogando, conheci por aqui pessoas incríveis e cantinhos inteligentes e inspiradores, dos quais não consigo mais me separar.
Hoje tomei coragem para dividir com vocês um pequeno raciocínio.
Durante muitos e muitos anos nunca pensei em tratamentos psiquiátricos para me ajudar compreender a vida, suas fases, os altos e baixos pelos quais as maiorias de nós passam.

Mas o mundo gira, e a Lusitana roda e chegou o dia que cansei de tudo parei pra pensar melhor, e descobri que precisava sim de ajuda. Meus saltos, e sempre de salto, foram gigantescos.
Além disso, desde garota já sabia que a minha mente é muito complexa. Talvez a parteira tenha me deixado cair no chão, não sei não me lembro de nada, e o eu sei o que todos me disseram durante toda a vida que normal, não sou.

Assim, andei pensando em adicionar uma assinatura padrão aos meus e-mails com os dizeres; - “Por favor, não me trate como se eu fosse normal”.
Na procura de resposta, acabei diante de estranhos contando as minhas loucuras acumuladas – Confesso, como louca confessa, que estou adorando esta loucura semanal que é a terapia.

Na minúscula salinha de espera sempre tem alguém aguardando a vez, ou alguém saindo. Ninguém olha para ninguém. O silêncio é uma loucura, mas enfim, como adoro escrever, observar as pessoas, imaginar os nomes, a profissão, se são casados, quantos filhos têm, entro numa espécie de viagem.
Acho que todo mundo que gosta de escrever adora analisar as coisas.
(Devo acrescentar que foi à capacidade de escrever que me salvou quando precisei voltar novamente para o mercado de trabalho. Mas isso já é outra história).

Numa das sessões, estava eu, e uma mocinha muito fashion aguardando a vez para ser atendida.
Comecei, é claro, imediatamente a imaginar qual era a loucura dela; - Que motivos teriam trazido até ali? Qual seria o problema? Não foi difícil, porque eu já partia do princípio que ela sofria do mesmo mal que eu, senão não estaria ali
tão cabisbaixa...

Notei que a blusa estava rasgada, ou descosturada, ou é da moda, sei lá. O olhar dela era triste, cansada, comecei a ficar com pena dela.
Depois notei que ele trazia uma maleta dessas de guardar note book. Podia ser o corpo do namorado esquartejado lá dentro, talvez apenas a cabeça...Podia ter também uma arma lá dentro... Podia ser perigosa.
Afastei-me um pouco dela no sofá. Ela dava olhadas furtivas para dentro da sua mala assassina.
Observo as mãos. Roia as unhas. Insegurança total, medo de viver, de casar, ter filhos...
Devia morar num flat bacana, pagar caro, devia ter dívidas astronômicas...

É a minha vez, tenho que ir conversar com a minha terapeuta.
Conto para ela a minha viagem na sala de espera ela não diz nada, mas percebi que estava sorrindo... Em seguida desabafo e conto um episódio esquisito que aconteceu no fim de semana, amnésia alcoólica (foi o nome que ela deu), isso mesmo, tomei apenas algumas taças de vinho durante um jantar, bebo cada dia menos, e de repente não estava mais lá.
Não passei mal, ninguém notou nada demais porem no outro dia não lembrava que tinha saído de casa.

Ela não conseguia conter o riso por conta da minha viagem na saleta.
Termina a sessão me dizendo: - Vou aumentar a dose do remédio.

Isso aconteceu já há algum tempo atras. Continuo o tratamento, mas agora sem a terapia semanal. Acho que to ficando melhor e me sinto feliz.
Esse negócio de achar que a gente poderia ser melhor nos leva para caminhos perigosos e sem volta. Alguns terminam num abismo tão grande que se não se cuidar morre afogado.

Quem vai saber o que virá?

PS.:Agora, por exemplo, suponho ter terminado este raciocínio. Assim, vou parar de escrever, e vou fazer outra coisa.
Se, mais tarde, ou em outro momento, eu reler esse texto e achar que não ficou bom, posso mudar tudo, apagar tudo, posso esquecer o que dito, posso negar, me arrepender ou posso redizer tudo de novo, acrescentando ainda outras coisas.