Desde criança queria ter uma horta, mas nunca tivemos espaço para ela, entretanto tive por alguns anos uma vizinha que tinha no quintal de casa horta e um galinheiro, e por sorte nos tornamos grandes amigas.
Morei na cidade a maior parte da minha vida, não tinha contato com bichos, mato, jardins e muito menos com hortas.
Quando chegou o dia que pude ter um pedacinho de terra a primeira coisa que pensei foi em começar uma horta.
Não vou falar que é fácil não. Primeiro que enfiados dentro daquela mata, logo descobri que quem dá as ordens é apenas a natureza, que esta em constante movimento e onde TUDO depende das estações do ano.
Na terra a matéria-prima é imperfeita e misteriosa, a natureza é pronta, resoluta, inesgotável, lança plantas com vigor e liberdade e quanto menos valiosa a planta, mais rápido e esplêndido o seu crescimento - já repararam nisso?
Comecei devagar, primeiro plantei só ervas para chás, banhos e temperos, depois fui para as pimentas e tomatinhos, os legumes, as folhas...
É preciso saber dar e receber, ter paciência, jeito, um pouco de estudo e habilidade, mas antes de tudo ter tempo, um projeto e uma intenção.
Jamais poderia imaginar ou calcular em valores o viço, a saúde e o encantamento que a natureza dá diariamente, sem falar na grande safra de antecipações que vem logo que as primeiras sementes rompem a superfície da terra.
Observá-los por entre as moitas e descobri-los expondo-os a luz do sol é uma delicia, a vida oferece poucos momentos como este. Mas logo é preciso colhê-los, apanhá-los antes que caiam, e no mundo (hora na terapia) a parte mais desagradável é sempre essa de apanhar as coisas do chão.
Hoje, não conheço nada que dê mais satisfação e orgulho, do que ter à mesa legumes e verduras da minha própria horta.
Quando entro num supermercado e vejo as verduras, as ervas, os legumes, me vêm uma ponta de orgulho – “Ah que delicia! Também tenho uma horta e posso desfrutá-la à vontade.
Caminhando por entre os corredores do supermercado fico sempre pensando... Hum, “este ano não preciso comprar pimentas, alecrim, manjericão e tantas outras coisinhas que eu mesma plantei inclusive algumas frutas que caem aos montes ano chão porque não é possível dar conta. - Alguém poderia dizer: “Será que compensa? Tanto trabalho? Penso por alguns instantes que essa pergunta agora para mim seria o mesmo que perguntar: Um pôr de sol compensa?”
Observar as verduras crescendo de um dia para o outro me faz pensar em algumas pessoas:
– A Alface, por exemplo, é como uma conversa: precisa ser fresca e nova, vivente a ponto de não revelar o amargor. Mas a alface, como a maioria dos conversadores, tem tendência para murchar rapidamente. Feliz aquela que chega ao apogeu e aí se demora como algumas pessoas que eu conheço – cada vez mais sólidas apetecíveis e tenras ao mesmo tempo, mais brancas no centro e viçosas na maturidade.
A Alface como a conversa, exige muito azeite, para evitar atrito e harmonizar o grupo; uma pitada de sal; outra de pimenta; certa quantidade de mostarda e vinagre, naturalmente, mas tão misturados que não se notem contrastes marcado e ainda um pouquinho de açúcar.
Numa salada, como na conversa pode-se pôr de tudo, e quanto melhor; mas o segredo esta na mistura.
Sinto-me na melhor sociedade depois que passei a observar o crescimento de um pé de alface.
Possuir um pedacinho de terra revolvê-la com a enxada, plantar sementes e observar a renovação da vida – eis o encantamento mais comum da espécie humana.
Vista do lugar
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